O Processo de um Filme.

Aos que visitam o blog pela 1ª vez, recomendamos que leiam primeiro os posts mais antigos, para compreender melhor o que estamos fazendo. Para isso basta descer nesta página e clicar em POSTAGENS MAIS ANTIGAS. Sejam bem vindos.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Do Grande Sertão, disse Riobaldo:

"Queria entender do medo e da coragem, e da gã que empurra a gente para fazer tantos atos, dar corpo ao suceder. O que induz a gente para más ações estranhas, é que a gente está pertinho do que é nosso, por direito, e não sabe, não sabe, não sabe!"
e mais
"Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da Travessia"

Porque faz tempo que ninguém coloca nada aqui e porque acabei o livro.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Isabel por Gongom

Daí que a bel tem uma coisa de passarinha que é muito claro na minha cabeça e no jeito que eu imagino ela quando eu paro pra escrever essas descrições de filme sabe? Ela é pequena e dá vontade de cuidar e de proteger ela das coisas, da chuva, dos raios e das situações desconfortáveis da vida. Mas isso é uma isabel conceito, meio antiga, isso é irmã da helena, é amiga das namoradas do pessoal da banda, isso tudo é aquela menina engraçada e não exatamente sóbria que eu adorei quando eu conheci, isso é bobagem.

To vendo e não é de hoje que vem uma outra por aí. Aliás, já ta começando a passar, ó.

Tem um monte de coisa nova na isabel que eu nunca tinha visto, metade porque até então eu não tinha olhado direito e metade porque essas coisas são novas mesmo, coisa nova que nem ela sabe que tem. Precisa ter coragem pra entrar nessas, ainda mais assim, sem lenço.

Frescor juvenil titubeante, todas as possibilidades pela frente, frios na barriga e um mundo atrás da porta igual ao da elisa, iguaizinhas.

A gente é o seu mundo bel, vem.

Galo por Gongom

Os anarquismos, o violão, o violão, os anarquismos. É, são importantes. Eu adoraria dizer que isso é tudo bobagem, só pra ver ele descontoladão, empinando o queixo retrátil, levantando a voz, gesticulando com o nariz vermelho e enfiando o braço inteiro na sua ferida. (adoro o galo puto, é pior que o Marcão dando entrevista depois de goleada em casa), mas eu reconheço o quanto essas coisas fazem dele quem ele é. Pra quem vê o gustavo sentado na cantina do judeu, tomando café doce pra cacete, lendo algum livro da editora 34, de all star roubado e calça branca, pode parecer que é só isso mesmo. Mas o mais legal do gustavo é o deslumbre e é nele que ele se desarma.

O galo é um puta deslumbradão, no melhor sentido da coisa. A gente senta, bebe dois fernêsss e ele começa a viajar, a especular um monte de coisas sobre o futuro, sobre os projetos, a banda, o filme, a peça, o ensaio, o apartamento, tudo. Vira um bobalhão encantado com as coisas do mundo, com a vida, com as possibilidades, com todo monte de gente maluca que a gente sempre conhece junto. Ceis percebem que ele vai virando um pouco as pessoas que ele gosta? Genial essa mistura de reverência e referência que ele faz.
Acho muito gostoso conviver com esse galo que tem coragem de abaixar a guarda. Tenho certeza que é por isso que ele vê um monte de coisa que eu só percebo depois, quando ele canta.
Galinho... eu nem lembrava mais que no começo era galinho... Não foi o guto que inventou esse apelido. Ele me lembra o zico: a batata da perna e o jeito de olhar são quase os mesmos.


Acho que é por isso que eu não paro de pagar nem os choppes nem as ligações telefônicas.

Eu por Mim. (Gongom)

-E aí, vai fazer logo ou não?

Vou calma to terminando de pensar um negócio aqui...Já sei! Entendi tudo.

Eu to desarrumando tempo pra fazer essa auto descrição faz tempo já. Eu to ocupado ultimamente, de verdade, to com um impulso novo de coisas pra fazer, de dormir menos, de ir mais direto de um lugar pro outro, sem parar.

E é um saco ter que ficar provando pra todo mundo isso, ao mesmo tempo que eu não paro de me enganar com absolutamente tudo o que eu faço. Tem gente que não sabe mesmo do sentido das coisas que faz, eu sei muito bem e crio outros super lógicos pra contrabalancear. Ah, eu faço muito isso que eu acabei de fazer, começo uma coisa e não termino nunca porque ela sempre vira outra no meio e vai indo sem parar para o alto e avante.

-Tá, ficou legal até agora, meio sério meio engraçado, meio espertinho, mas avança de uma vez porque você fica falando a mesma coisa e não sai do lugar e tem gente que não tem paciência pra ler tudo e vai pular esse parágrafo.

Bom, voltando ao ponto, eu odeio ter que me confrontar comigo mesmo, ter que decidir:

- Crise Existencial, esse é o Pedro. Lembra que eu disse que queria apresentar vocês?

Sempre achei que vocês iam se dar bem...

Calma! Tá, aí tem essas coisas que de tanto todo mundo falar, você para pra pensar sobre você e se convence de que você é realmente muito isso, e que não é a toa que todo mundo fala. Tipo que eu sou engraçadão e que eu sei muito sobre umas coisas absolutamente desimportantes tipo televisão, cultura pop, sub-celebridades, comida, bebida, ar condicionado, conforto, estar fora de forma, não pegar cor, auto medicação e hipocondrismo, estados unidos, bateria, drogas, vídeo game, música eletrônica e reality shows. Mas cara, eu tenho essa coisa ponderativa Cléber Machado que o galo fala, pra mim é fácil botar uns panos quentes e por isso, mais ou menos do mesmo jeito que a lia, eu gosto de verdade de quase (quase mesmo) todomundo. Aí que eu tenho um monte de grupos de amigos e em cada um eu sou muiiito diferente e assumo outro papel: tem o pedro o ph o gongom o peu o pedro henrique. Juro que eu sou o hippie dentro de outros círculos sociais, dá pra acreditar?

-Ah vá, todo mundo é assim, você se acha e não entende que o denominador comum é que é você de verdade.

Eu sei, mas eu tenho essa coisa de querer ser diferentão e não me constrage assim na frente deles.

- Mal.

Pô, me perdi aqui... Ah, sérias dificuldades para dizer não. Eu não tenho a mais parca idéia da hora exata de parar, só a possibilidade de existir alguém fazendo alguma coisa mais ou menos legal sem mim me assombra. Aí eu lavo o rosto e vou. é isso, e eu sou barbudo, confuso, tímido, expansivo e o mais sóbrio dos malucos.

- Ainda tá faltando coisa, mas deixa no ar que é legal.

ainda descrição. Adelitinha por Lia

Tô dentro, tô fora, tô dentro, tô fora. Aí entro com tudo.
Tenho tristezas, mas vivo de amor. A ele eu escrevo, performo, eu o leio.
Visto figurino e danço até raiar o sol, ou durmo e sonho em silêncio. Eu sou muitos verbos, em muitas conjugações.
Sou forte, sou linda. Não deixo passar, quero saber de tudo. O tanto é tão pouco, sempre quero mais! Ou então não quero nada. Tenho tristezas, mas vivo o amor.
Eu sou coração e balanço, pai, mãe, irmãs, namorada. Sou amiga.
Sou sorriso, olhar doído e colorido. Sou atriz na minha vida. Clarice; sou isso.
Vida não tem sinônimos, tem laços, tem curvas e eu sou a estrada.
"Quero lonjuras. Minha selvagem intuição de mim mesma. Mas o meu principal está sempre escondido. Sou implícita(...)"- Sou Água Viva.
Tenho em mãos meu próprio mundo, mas gosto de dividí-lo.
Gosto de sentir e ser; gosto de amar. Quase não caibo em mim.
Eu sou Adelita

sexta-feira, 19 de março de 2010

De dentro de fora




Na nossa última reunião, conversando sobre questões relativas ao nosso destino (o destino da viagem mesmo, não esse maior, Destino...), percebemos que a viagem, até agora, não possui um ponto de chegada. OK, sempre tivemos a Bahia como objetivo. Mas ainda não tínhamos chegado a um consenso sobre QUE lugar é esse que queremos ir e POR QUÊ queremos ir para esse lugar. Até aqui, o que mais nos interessou foi o caminho para chegar sei lá em que lugar, o percurso, o processo que vai nos levando a ir nos conhecendo mais e mais, explorando os limites das relações, entendendo até que ponto realmente conhecemos o outro. Para isso, os exercícios que fizemos até agora tiveram muito mais este objetivo do "olhar para dentro". Descrevemos uns aos outros, ouvimos as descrições sobre nós, vimos a nós mesmos e aos outros através de diferentes prismas e olhares. Fizemos cenas sobre as nossas relações, conversamos sobre isso, enfim, começamos este trajeto por saber um pouco mais destes que, aparentemente, conhecemos tão bem e há tanto tempo (e isso se revelou tão surpreendente! Aquele que eu penso que conheço e não sei nem descrever e aquele que descrevo tão facilmente e me cai uma ficha linda de "nossa, como conheço essa pessoa!). Certo.
Na última reunião, sentimos que a etapa "olhar pra dentro" está se concluindo e que agora a nossa nova empreitada começa com o "olhar pra fora". Enfiar a cabeça pra fora da janelinha do carro, pesquisar paisagens, abrir os mapas, desvendar as trilhas, os caminhos, as cidades, os rios e este Brasil que é nosso objetivo-mor. Cada um tem como "tarefa" agora, trazer lugares que queira conhecer, pesquisar no Google, nas enciclopédias, revistas, trazer fotos, histórias e vontades deste para fora tão imenso e a princípio distante e desconhecido. Para dar uma mãozinha, vamos chamar o incrível Israel, pessoa mais indicada pra nos falar de lugares escondidos Brasilzão adentro.
Portanto, que venha o próximo passo: olhar para o mundo! E desejá-lo!

quarta-feira, 17 de março de 2010

Diabão

Hoje libertei-me de mim mesma,
arrombei cadeados de diferentes nomes
arranquei as cordas, dispensei forcas,
quebrei as cadeiras
Expulsei de dentro de mim a trava de nome diabo.

E é bom o diabo?
É bom,
o diabo liberta
O diabo encontra,
ele acredita no amor.
O diabo é bom;
bom de se viver,
bom de se escutar
O diabo vive no inferno nosso de cada dia

Se eu acredito em Deus,
por onde anda o diabo?
De qual deles nasce o meu amor?

Vai ser diferente?
Não vai, não vai mudar,
o diabo me segue
persegue dias e noites de céu e inferno.

Adeus diabo, saia daqui

Contribuição da Joana!

Ontem, a Jô nos mandou este e-mail de presente:


Eu também vivo disso. Vivo de investir nas relações, de criar vínculos, de aprofundar, de aprender o máximo possível. Vivo tentando ser coerente com o que eu acredito. Vivo querendo ir além, arriscar, quebrar as paredes. Me visto de professora e vou lá falar pras crianças que não existe só uma verdade, que dentro do ouvido tem o martelo, a bigorna e o estribo e que essa história de descobrir o Brasil é a maior mentira. Vivo digerindo uma Argentina que revelou meu certo e meu avesso.

Vivo, como vocês, explorando os outros. Inventando múltiplos eus e analisando os eus dos outros. Vivo criando conflito e vivendo dele – ainda que eu morra de vontade de ser dentista às vezes!

Mas o grande lance é que a vida é curta e o demasiado humano transborda dela o tempo inteiro! Que a pessoa escreve um TCC sobre poiésis e tem que correr atrás de um aluguel mais barato da noite pro dia. O foda é que o tempo urge e, se a gente não escuta Caetano no caminho do trabalho, não dá pra agüentar. E que se não tivesse os amigos no Biro na sexta, a segunda seria certamente impossível.



Enfim, tudo isso pra dizer, que assim como a Luanda, eu to admirando vcs, estou sendo tocada por isso e me deu vontade de compartilhar. Porque esse mundo que vcs criaram é um lugar privilegiado, é uma ilha com lago dentro do vulcão, é canto no dia de chuva, é purpurina no cotidiano e é a gente dividindo a casa com a gente mesmo.



É disso que eu vivo. De acreditar nessas coisas e de fazer elas acontecerem.




Um beijo.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Isabel por Lia

Hoje, pra mim, a Isabel deixou os treze e pulou para os vinte anos.
Desde pequena, de dentinho diferente, luta pelo que acha certo e justo com fervor e doçura. A Isabel é doce e engraçada.
Sente-se bem e amada ao seu lado. Ela faz questão de deixar claro todo o amor que sente pelas coisas e pessoas.
A Isabel cresceu sem nos contar e de repente tornou-se mulher. Mulher dessas de se adimirar, forte, apesar dos poucos três quilos que pesa. Segura de si e da vida, parece que não tem muitos medos.
Minha Sabiá, minha Zabelê, é presença forte que inunda de alegria e pureza o seu redor.
Faz piada, também chora. Irrita-se facilmente e vai à loucura, mas passa. Então de novo sorri com aquela mesma doçura.
Eterna criança, mulher, madura. Ela segura as pontas, apronta, volta pra casa e sonha bonito com o mundo.
Acorda de mau-humor, deus me livre acordá-la. Vem o café da manhã e horas na cozinha retomam seu bem viver. Vive-se bem com a Isabel, e ela sabe viver.
Irmã do peito de tantas amigas, menina de família boa, bonita e querida.
Minha Sabiá, minha Zabelê.

domingo, 14 de março de 2010

sair dentro entrar fora

Distanciar-se de si. Ir ao outro.
Creio que seja isso e deixo aqui uma reflexão.

Filmar em São Paulo. Pontos significativos da vida de cada um.
Casa, apartamento, trabalho, etc.
Sem mediocrizar as coisas.

Método que define a natureza da relação com o outro.

Achei isso sincero, significativo, importante.

A viagem é exceção de qualquer forma, não?

Alice

Alice, da Rússia ao Brasil. A personagem da Lia:

http://www.youtube.com/watch?v=yFX1h9rCMQw

sexta-feira, 12 de março de 2010

Alex / Sebastião

O personagem que criei para mim mesmo para a Travessia:

http://www.youtube.com/watch?v=ykv2wkiPBWw

http://www.youtube.com/watch?v=FzZa3_qdwpM

O texto lido no dia já segue abaixo:

ALEX / SEBASTIÃO

Meu nome é Sebastião. Cresci e fui educado a bordo de um veleiro cuja capacidade era de 6 pessoas. Até meus 5 anos de idade éramos eu, meu pai, minha mãe e um casal de amigos franceses, Jean e Marianne. Eles são meus pais adotivos. Dos meus pais verdadeiros, não lembro se quer dos seus rostos, tampouco guardo nenhuma foto. Faz 20 anos que eles morreram. Ela se chamava Marina e ele João. Obviamente não tiveram muito tempo pra me ensinar muita coisa, mas o principal eles fizeram: aprendi a falar em português, português do Brasil. Eu sei que meu sotaque é meio estranho, mas isso é porque meus pais adotivos, o Jean e a Marianne é que me educaram. Além disso, eu nunca vivi no Brasil, até agora.

Esta é a primeira vez que entro num continente a fundo pra falar a verdade, de resto só conheço as ilhas, as costas e algumas cidades litorâneas do mundo. Até 15 dias atrás eu nunca havia ficado a mais de 20 km do mar e creio que até hoje seria assim se não fosse por uma coisa que aconteceu.

Há uns três meses, vindos do Sul, nós costeávamos o litoral brasileiro sem nos aproximar muito. Quando atingimos a latitude de 25˚ 33' sul avistamos duas pequenas ilhotas próximas ao continente. Então houve uma súbita queda de pressão atmosférica, o mar se agitou muito, o vento ficou bem forte e irregular, tornando muito difíceis as manobras no barco. Eu já estava bem ávido para conhecer o Brasil e sugeri que buscássemos abrigo no continente, mas o Jean e a Marianne, sempre evitando contato com a civilização, preferiram ancorar em uma das ilhas. Porém a primeira que nos aproximamos era impossível de atracar, não havia praia, somente pedras contra as quais o mar se chocava violentamente. Na segunda finalmente encontramos abrigo, havia uma prainha e passamos uns dois dias lá.

Quando enfim o Sol veio, peguei o veleiro para explorar as redondezas, enquanto os dois resolveram ficar curtindo no acampamento da ilhota, enfim, essas coisas que fazem os velejadores solitários. Então rumei para a outra ilha inacessível. Tive que circundá-la quase inteira para encontrar umas pedras mais fáceis de subir, então ancorei o veleiro e nadei até elas, elas eram bem planas e formavam uma piscininha, então quando uma onda me jogou, passei em um segundo do nado à corrida para não ser arrastado de volta.

A ilhota era de fato linda, melhor do que eu havia imaginado. Uma mistura de terra e rocha vulcânica exposta, de modo que havia diversos tipos de vegetação muitos próximos uns aos outros: mata de restinga, capins selvagens e densas árvores da mata atlântica. Muitos, infinitos de ninhos de todos os tipos de pássaros marinhos se espalhavam pelas escarpas que davam à ilha o seu contorno de vulcãozinho. Minha vontade era de escalá-la e ver lá de cima o continente que eu tanto queria conhecer.

Quando comecei a subir, logo encontrei um fio d'água que descia dos duzentos metros que a montanha devia ter. Estranhei, era uma ilha muito pequena pra conter uma nascente. Passei então a seguir o fio e quando cheguei ao topo encontrei um lindo lago de águas cristalinas onde um dia deve ter sido a cratera daquele vulcão. Não era água da chuva acumulada e quente, era doce, fresca e corrente. Tirei a roupa e pulei. Haviam peixes nadando ali! Peixes de água doce e eles simplesmente não tinham o mínimo receio da minha presença. Então eu notei uma fenda grande quase no fundo do lago. Era um tunelzinho subaquático. Fui, tinha que ir, claro. A idéia era estúpida e com possibilidades suicidas, mas eu já estava ali e tinha que ver o que tinha do outro lado, se é que havia outro lado. Hiperventilei para ter mais fôlego, correndo o risco de desmaiar e mergulhei. Eram cinco metros até a boca do túnel e então nadei mais dez, ou quinze metros. Tinha que voltar ou ia morrer ali. Mas então eu vi que havia luz do outro lado, pois logo à frente a água passava do negror total para um verde escuro. Quase morrendo e quase 15 metros à diante sai da água.

Estava em um outro lago, dentro de uma caverninha. Pequenas fendas nas pedras iluminavam o lugar que tinha grandes matacões redondos cobertos de musgo. Segui por um corredor e encontrei uma outra sala, quase idêntica, só que sem água. Ao invés de água o que se via no chão eram centenas de livros espalhados. Todos tinham 410 páginas, capa dura cor vinho e o título, sem autor, na lombada. Os títulos eram cada um referente à uma pessoa. 'Livro de Pedro', 'Livro de Bruno', 'Livro de Carlos'. Escolhi no livro de Bruno uma página a esmo e encontrei a seguinte passagem: "Bruno estava com 5 anos quando ficou órfão à bordo do veleiro e estava prestes a ser adotado pelos assassinos de seus pais, Jean e Marianne". Estremeci diante do absurdo vertiginoso. O resto do livro era simplesmente a transcrição de minha vida até ali. O que vinha antes era para mim uma revelação: todo meu passado antes dos 5 anos havia sido inventado pelos franceses. Eu morava no Brasil, em São Paulo e nunca havia pisado num veleiro até a tarde em que meus pais foram convidados por aquele simpático e perigoso casal de franceses que haviam acabado de conhecer em Guaecá.

Totalmente cego tomei aquela história como minha sem nem sequer refletir. O medo e o ódio me deixaram num estado quase convulsivo e eu perdi a noção do tempo e da realidade. Em meio ao delírio me vi indo ao veleiro e matando Jean e Marianne. Foi quando encontrei outro livro, justamente o que levava o meu nome: 'Livro de Sebastião'. O que ele narrava era uma história quase idêntica, com a diferença que até os cinco anos a história era exatamente como eu conhecia até ali, sem que houvesse assassinato. O livro terminava comigo entrando na caverna.

Sucessivamente, fui lendo trechos de outros livros e todos contavam a minha história com pequenas diferenças. Alguns começavam mais adiantados e falavam do futuro, outros narravam até o presente. Em alguns meus pais eram assassinados pelos franceses, noutros os assassinavam e passavam a viver sob sua identidade e noutros se quer existiam, os franceses eram meus pais.

Até que por fim encontrei o 'Livro de Alex'. Ele era diferente, não havia a minha história pregressa. Havia a estória de Alex, que começava com ele saindo de uma caverna em uma ilha, despedindo-se de seus pais e indo para o continente, onde encontrava um grupo de jovens viajantes que viriam a lhe ensinar a viver entre os homens. Alex levava consigo um livro contendo o seu futuro. As últimas palavras que li do livro foram: "...então Alex decidiu parar de ler e começou a escrever".


Dionísio por Galo...

...e Galo por quem?

http://www.youtube.com/watch?v=fVtHT4nibYc

http://www.youtube.com/watch?v=IrqhRpqsLIo

quinta-feira, 11 de março de 2010

E-mail da Luanda

paraTom Butcher
data10 de março de 2010 23:59
assuntotravessia


Caro Tomzinho,
Visitei pela primeira vez essa noite o blog do seu filme, acho que por curiosidade depois de ouvir alguém comentando alguma coisa, ou porque eu ainda não tinha entendido direito a proposta, ou porque depois de assistir Lost não tinham muitas outras coisas pra fazer na frente do computador.
Eu li tudo o que tava lá, e na ordem certa. E ainda vi os filmes.
Fico sem palavras pra dizer como achei o projeto incrível.
De verdade, a proposta é muito corajosa, é muito forte e muito bonita. Muito instigante, firme e bem justificada.
Executada de forma intensa e verdadeira.
Putz, isso me tocou pra caralho!
Me tocou o "dar a cara pra bater" e a imensa vontade de trabalhar juntos e fazer uma coisa de vocês pra valer.
Me deu orgulho de ver tantas pessoas de fato generosas e interessantes fazendo isso juntas.
Me inspirou várias reflexões, acabei copiando o exercicio de escrever sobre si mesmo e preenchi páginas e páginas do meu caderno, pensei coisas que eu tava precisando pensar, acho que o trabalho de vocês me provocou, e acho que é pra ser provocante mesmo.
Quis muito te dizer isso e eu não tenho muita facilidade ou hábito de tecer elogios assim, não sei porque mas é uma coisa minha, eu não sou de paparicar e costumo só elogiar quando estou muito convencida de que o elogio precisa ser feito.
Enfim, esse elogio precisava ser feito!
Vocês têm possibilidades poderosas nessa travessia!
Boa jornada!
Um grande beijo da admiradora Luanda.

Personagens: Sereinha da Sé

A Sereinha da Sé está no youtube, enchi o saco de tentar postar aqui no blog, demora muito e fica feio. Daqui pra frente é só lá.

http://www.youtube.com/watch?v=VW5qkx2xo04

Vai Sereinha!

quarta-feira, 10 de março de 2010

quizumba de dionísio paixão


Preto. 1,80m. 75 kg. Natural do bairro do Bixiga, Rua Abolição, São Paulo. Sem profissão. Faz samba. Gosta de Assis Valente, Ismael Silva, Monsueto e é claro Geraldo Filme. Gosta também de Caetano Veloso e Jorge Mautner. Dá pernada. Curte angu. Às vezes some no Rio ou na Bahia. Foi visto também nas caladas de Buenos Aires. Não gosta de rimar amor e dor. Adora uma pelada. Divide a casa com Galo. Guilhermoso Wild Chicken é seu norte, sua guia. Não tem medo da loucura. Não tem medo da morte. Não gosta de Ivete Sangalo. Nunca foi a Sapucaí. Seus prazeres são outros. Coisas da vida. Sua cor favorita é o vermelho. Seus ídolos são Mick Jagger, Ângela Davis, Madame Satã. Descobriu o rock´roll recentemente. Dançou até o sapato pedir pra parar. Já disse que ele divide a casa com Galo? Só aparece em dia de festa ou loucura. Foi assim que ele voltou depois de uma longa ausência, galopando pela praia deserta. Disse que voltou pra ficar longo tempo. Chegou a hora, segundo ele, da quizumba. Quer cantar.

terça-feira, 9 de março de 2010

Personagens: Tobias

No dia 28/02/2010 gravamos cada um de nós falando sobre os personagens que podem vir a compor parte de nossas representações. Lembrando que estamos em processo, portanto os personagens podem mudar, o momento de aparição deles ser alterado durante as gravações e até mesmo serem descartados, caso o ator opte por não se representar assim.
O que surgiu, no entanto, foi muito rico e provavelmente terá continuidade. Estou com dificuldades de postar vários vídeos no mesmo tópico, além de demorar muito. Então vou colocar um por dia.
O primeiro é Tobias, o ladrão performático. Aproveitem.

Lia por Bel

A Lia constrói famílias. A Lia tem imã. Ela acredita no amor e ama visceralmente no seu silêncio. Aliás " Teus silêncios são pausas musicais". A Lião tem uma certa queda pelos platônicos, pela Bethania. Carrega o mundo nos seus garranchinhos miúdos impressos naquele caderno. Mundo de dores-amores, de judeus nordestinos. Tem coração grande, onde sempre cabe mais um golinho de cachaça. Pois é, sendo Lia 1,2,3 ou o meu rolinho primavera, ela vai sempre guardar a preciosidade do mundo.

Galo por Bel

Galo
bomba de hidrogênio

"[ Eu sempre quis muito
mesmo que parecesse ser modesto...
...muito é muito pouco...
Eu nunca pensei que houvesse tanto
coração brilhando no peito do mundo
louco.]"

O Galo quer muito. Ele agita o carnaval mas deixa o bloco passar.
Peito vivo, pulsante, libertário, mas de difícil acesso - por isso foi ontem que percebi que seus olhos eram verdes.

sábado, 6 de março de 2010

O Processo: Os Pactários

Na nossa 5ª reunião, como havíamos programado, gravamos a nós mesmos contando sobre nossos personagens, material que logo estará neste blog. Antes, porém, falou-se de um pacto...

http://www.youtube.com/watch?v=jQo82NkkLq4

http://www.youtube.com/watch?v=GbCx90o4NB8

quarta-feira, 3 de março de 2010

Sereinha da Sé




Não que seja menina de rua, mas vive dentro de uma fonte que deixou de ter água há uns bons anos, na Praça da Sé. Dessas meninas - menino que vemos por aí. Mora mesmo ali dentro, por isso é conhecida nas redondezas como a Sereinha da Sé. Quando chove é a desforra. E quando chove muito, a fonte até enche um bocadinho e ela se esbalda brincando de ser a sereia que gosta de imaginar. Sereinha do cabelo curto, que canta nas calçadas durante o dia pra ganhar a vida com uma vozinha chocha - e o povo até que se compadece e lhe descola algumas moedas pequenas. Mas quando chove, aí ela se inspira e bem que solta um vozeirão de menina adulta, de menina mulher que encanta os que tem a sorte de flagrar a cena. Flagrar, porque não é para os outros que ela canta assim, é pra ela mesma, quando se sente feliz e imagina longas madeixas ao invés do cabelinho curto desgrenhado e uma calda linda e verde esmeralda no lugar das pernas. Claro que o seu sonho é conhecer o mar. Como foi parar lá dentro da fonte da Sé, é estória que os outros gostam de imaginar. Cada um tem sua opinião, chute, e outros dizem que sabem mesmo: que ela foi largada ali de bem pequeninha e que não conhece outra vida, outro lugar. Nunca saiu do centro da cidade, de onde conhece cada canto, cada esquina, cada boteco, cada pedinte, cada puta, cada cão sem dono, cada menino de cola, cada poste, cada cuspe, cada avenida, cada ponto de ônibus, cada casa de suco. Mas nunca viu coisa nenhuma diferente de canto, esquina, boteco, pedinte, puta, cão, moleque, poste, cuspe, avenida, ponto e suco. Nunca viu o mar, por exemplo. Nunca viu areia da praia sem ser em capa de revista, nunca viu duna, nunca viu céu despoluído, mata virgem, estrelas no céu nunca nunca viu. Nem imaginar, imaginou. Imaginar como, se não sabe que existe? Aí seria invenção, não imaginação, então ela prefere nem tentar. E se contenta com seu tanque seco, com sua voz murcha, com o fato de ninguém saber seu verdadeiro nome. Se contenta com noite sem lua e com as luzes que nunca a hipnotizaram.
E naquele dia foi ela quem hipnotizou um bigodudo chamado Zeus que surgiu de combi do meio do temporal para levá-la dali pra bem longe. “Quer conhecer o mar, Sereinha?”, perguntou o desconhecido. “Que que você acha, tio?”. E assim, enquanto cantava ia subindo a bordo da combi 1985 do tiozinho do bigode simpático. “Pode fumar aqui, tio?”. “Você pode tudo, Sereinha. Não tá vendo que eu sou a sua salvação. Agora vamos buscar os outros.” Ela nem perguntou nada. Não tinha nada a perder, afinal de contas. Não sentia apego nenhum pela fonte da Sé – é, ela não teria do que sentir saudades. Queria mais era ir ver o mar, e iria mesmo achando que aquele tiozinho vestido de salva-vidas podia muito bem tá enganando ela. Ele parecia inofensivo. Ela tava acostumada com coisa pior. Queria mesmo era andar de combi pela primeira vez. “Tchau Sereinha da Sé” – gritava com a cabeça pra fora da janela, e depois ela abria a boca e deixava a água da chuva entrar. “Agora eu vou ser a grande sereia do mar!”.