O Processo de um Filme.

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domingo, 7 de fevereiro de 2010

Encaminhamentos e Questões

Enquanto desenvolvemos nosso processo e personagens nas tarefas e reuniões, tenho me encontrado com o Diogo para pensarmos a produção e suas implicações estéticas e temáticas no filme. Ou vice-e-versa. Estamos bolando cronogramas, orçamentos e um projeto mais objetivo e bem acabado, com maiores definições para mostrar as idéias e o filme que estamos fazendo para quem não está dentro.

Ontem nos encontramos com a Dô, Sônia Hamburguer, para nos aprofundarmos mais nessas questões. A relação modo-de-produção/Tema/Estética sempre me instigou muito e é parte fundamental deste projeto. Sempre achei um tanto absurdo filmes com propostas e temas altamente distintos serem filmados demaneira tão parecida e dispendiosa. Por conta disso muitas obras se mostram frias, enrijecidas e contraditórias em relação aos seus temas e e olhares. Tal paradigma se reflete em nosso microcrosmo universitário. Ao invés de sermos instigados a desenharmos uma produção que se adeque aos nossos roteiros, de bolarmos soluções baratas e criativas, somos condicionados e nos condicionamos a ter que usar uma baita parafernália muitas vezes desnecessária e a montar uma hierarquia burocrática no set. O resultado é que a criação, a espontaneidade e o improviso morrem, a encenação se torna rígida, nos reunimos no set apenas para executar um plano decupado e colocado numa ordem do dia.

Nosso filme trata de viver como se acredita, de fazer do cotidiano essa busca. Então não faz o mínimo sentido filmarmos de maneira que o meio não seja um fim em si, que não haja prazer, criação e espontaneidade no processo. Isso gera uma infinidade de implicações das escolhas a serem feitas para que isso se dê de fato.

Seremos atores vivendo uma viagem pelo Brasil e nesse caminho desenvolvendo personagens que gostaríamos de ser. Vivendo e represantando a uma vida desejada. Há portanto um forte movimento de descoberta e representação individual de cada um. Por outro lado, como vimos no dia de E Sua Mãe Também somos jovens pertencentes a uma classe e dentro dessa classe, um grupo. Somos brasileiros, mas em determinada instância estamos isolados de muitas das realidades de nosso país, vivendo no nosso Vale Encantado do Rio Pinheiros. Quer queiramos, quer não, isso estará presente no filme. Só temos a ganhar se encararmos isso de frente, escancarando todas as questões e contradições que isso abarcar. Portanto iremos nos representar enquanto grupo também.

Pode parecer que não, mas o viver como se deseja e a auto-representação enquanto indivíduos e enquanto grupo geram milhões de questões estéticas e de produção.

Na nossa 1ª reunião lá na Ilha, o Gomgom muito espertamente colocou o problema de pensarmos nosso meio de transporte: Se viajaremos juntos, é muito importante que o meio de transporte concentre todos num mesmo espaço dramático, afinal muita coisa vai acontecer enquanto estamos na estrada. Isso me levou a pensar várias soluções. Uma kombi é muito barulhenta, um furgão fica todo mundo olhando pra frente. Um dia dei de cara com uma capa de um Road Movie e a solução pareceu brilhar na minha frente: um trailer.

Pronto, perfeito. Um espaço dramático único em que todos pussem se sentir mais livres para interagir e se movimentar. Além disso o trailer me parecia a metáfora perfeita para o nosso grupo: Pessoas numa casa que viaja pelo Brasil, mas que preserva um tanto de isolamento.

Porém essa solução se mostrou muito cara e logo se tornou um problema. Para solucioná-lo pensei em buscar grana pelas leis de incentivo e apoios. Ir por esse caminho pode ser uma solução, mas também tem muitas implicações. Significa se comprometer com pessoas e instituições que não estão envolvidas diretamente com as nossas questões pessoais, de grupo e cinematográficas. Até então o compromisso que tenho é com nós mesmos e pretendo nesse semestre estabeler um outro com a Universidade. Com nós mesmos por irmos a fundo num processo e numa experiência que nos propomos. Com a Universidade por este projeto estar fundamente voltado à minha formação e à uma pesquisa de linguagem e modo de produção que fecha meu ciclo lá e que quero que esteja veinculado à ela, por ser o espaço da pesquisa e da experiência por exelência, apesar de nesses três anos ter se mostrado mais o espaço do ensino técnico.

Eis algumas questões que o Diogo, a Dô e meu pai me ajudaram a ver mais claramente.

Não faz sentido buscar apoio financeiro se isso de alguma forma comprometer o caráter experimental deste filme, se implicar na perda de liberdade de modo de produção, de atuação, de viver. Se perdermos a liberdade de errar, de tentar fazer um filme de maneira particular, única. Todo o filme é único, portanto não há porque filmarmos igual.

Nada está descartado por enquanto. Mas o trailer ou qualquer outra coisa não pode custar o nosso espírito de aventura.

Pensei que podíamos ir de ônibus mesmo, misturados na galera, interagindo mais intensamente com pessoas de fora de nosso ciclo.

Convido a todos a opinarem sobre essas questões.

Um comentário:

  1. Tonga,
    eu já havia sugerido a idéia do ônibus. Acho que pode ser uma solução ótima. Mas por outro lado, perdemos a liberdade de parar quando sentirmos vontade ou quando nos atrairmos por um lugar. O ônibus vai direto, dois dias sem parar (eu acho..). E por outro lado ainda, pode ser bem interessante a convivência direta com os outros passageiros, mil outras estórias passando do nosso lado. Mas também perdemos a liberdade de filmar o que quisermos porque as pessoas podem se incomodar... Sei lá, to aqui só analisando os lados da questão. Ainda não encontrei solução. Só acho que é fundamental isso que você diz sobre o modo de produção do filme dialogar com a forma que ele propõe. Isso é um fato.

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