Mas pouco sabemos o quanto de incontrolável há em nós, instando-nos a atravessar gelereiras e torrentes e subir a alturas perigosas, por mais que o juízo proíba.
John Muir - As montanhas da Califórnia
É mais do que provável que não subiremos a picos de alturas perigosas em nossa viagem, mas está mais do que claro que o que nos une é a vontade de experimentar a vertigem de um outro abismo: o de nós mesmos.
Estávamos na Ilha do Cardoso quando o primeiro passo em direção à exploração desse abismo foi dado. Com quase todos os atores presentes, lhes foi entregue um papel com duas perguntas:
1) O que você gostaria de viver e ver acontecer nessa viagem?
2) O que te falta coragem para fazer?
Cada resposta que recebi até agora continha suas particularidades, suas nuances, seus desejos; mas todas, sem exeção, continham uma vontade em comum: que cada um se permitisse ser plenamente o que deseja ser, ou o que já é por dentro, que cada máscara, por mais louca, sombria, selvagem, viesse à tona.
Está claro então que vivemos nossas vidas de maneira que não nos libertamos totalmente. O nosso ambiente e nossas próprias travações nos levam todos à uma insatisfação em relação à nossas vidas. Viajaremos então. Mas tal viagem não é uma fuga e sim uma busca por se viver e filmar como se acredita, de um jeito único, individual, não como nos foi dito para fazer, mas como descrobriremos ser o nosso. O ser viajante, tão presente no cinema e na literatura, muitas vezes é visto como um ser em fuga, mas raramente o é de fato. Optar por viver uma vida diferente não é fugir da vida que nos é imposta, mas combatê-la.
Estas primeiras perguntas foram então o passo inicial para que iniciemos juntos essa empreitada coletiva, e solitária ao mesmo tempo, em direção ao que acreditamos, ao que sonhamos. A tomada de consciência perante aos desejos e censuras que carregamos é fazer as malas de uma viagem que já começou.
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