A infância foi marcada pelas férias na fazenda do tio avô - que mais tarde haveria de ser perdida pras jogatinas masculinas. Era primaiada por todo o canto. O pai, severo, em plena atividade patriarcal. Coisa que Elisa condenava sem saber bem o porquê, mas que sob o consentimento dos olhos apaixonados da mãe, teria de aceitar.
Naquele tempo havia amor entre os pais. A mãe não tinha adoecido. A família não sufocava. Tudo parecia caber na compreensão-de-menina de Elisa. Parecia leve...
Daí veio a separação, a morte, o colégio interno. Os irmãos dispersos, o fim da fazenda e da infância.
Não tinha mais os beijinhos açucarados da mãe.
Tinha era uma alma solta, confusa, que vagava nas sacristias geladas em busca de um acontecimento.
Assim formou-se a vontade da independência, a curiosidade que transbordava dos livros, a coragem que se firmava numa menina de mãos atadas, presença forte.
Elisa queria descobrir os desejos. A pele queria colar em outra pele, o coração queria pulsar mais forte, os olhos precisavam abraçar o mundo - e, certamente, não daria pra esperar os quase distantes 18 anos.
A feminilidade nascia espontaneamente naquele corpinho miúdo. O bico do peito já deformava a camiseta do uniforme branco exigido pelas freiras, a respiração palpitava. Os poros se abriam para fazer expandir a erupção de dentro de Elisa.
O corpo, num sobressalto, aqueceu as paredes mofadas da capela principal. Era vapor pra todo lado. Então o sino bateu e a porta do colégio interno se abriu. Não tinha ninguém esperando por ela, nem família, nem fazenda, nem conto uruguaio.
Só o vento.
Caí na vida Eliseba!
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